Droga
originária no submundo das cidades grandes, o crack se espalhou em duas
décadas por 91% dos municípios brasileiros, atingindo hoje não só a
classe pobre, mas também a média e a alta, com poder destrutivo muito
arrasador, esfacelando famílias e matando pessoas, independente do sexo,
cor ou credo religioso.
Na semana em que a Confederação Nacional dos Municípios (CNM)
divulgou resultado de pesquisa realizada em todos os estados do Brasil,
mostrando a realidade dos municípios, que é bastante assustador,
principalmente no Rio Grande do Norte, onde a droga já atinge 87% das
cidades, O Mossoroense foi em busca da realidade de jovens viciados que
lutam para se livrar do crack, ou pelo menos se manter longe dele.
A
equipe de reportagem recebeu um e-mail enviado por um rapaz de 22 anos,
residente na cidade de Pau dos Ferros, que viu sua vida desmoronar
depois que experimentou a droga pela primeira vez. Atualmente, Ramon
(nome fictício) tem 22 anos e está se preparando para mais uma seção de
tratamento de usuários de drogas em uma fazenda do município onde
reside.
Segundo informações relatadas pelo dependente químico, longe
do vício há oito meses, ele agora pretende através de sua história
ajudar outros jovens que também tiveram suas vidas destruídas pelo
crack.
A história de Ramon se assemelha com roteiro de filmes, mas
como ele próprio descreve é vida real. Para sustentar o vício, furtou
objetos de casa, se envolveu com quadrilha de assaltantes, ajudou
traficantes, se prostituiu, tudo para conseguir dinheiro para as pedras
(crack). "Vivia uma vida nojenta. Nem eu mesmo estava me suportando,
tinha nojo de mim mesmo e ódio por precisar das pedras para dar sentido a
minha vida". contou.
O inícioRamon relata que teve contato com as
drogas a partir dos 12 anos. "Sentia-me livre para fazer o que quisesse,
uma liberdade além do que eu poderia ter na minha infância. Comecei a
fumar cigarro, ingerir bebida alcoólica, mulheres. E isso foi
progressivo, tudo foi aumentando. Um ano depois tive o primeiro contato
com a maconha".
Para ele, no início, o crack não era tão popular como
é hoje, no entanto a aproximação com pessoas já viciadas, o encontro
com o crack era inevitável acontecer. "Um dia fui a uma favela comprar
maconha, só que estava faltando e o cara me ofereceu o crack. Já sabia
como usava e resolvi provar, foi o começo do fim", explicou.
De
acordo com a assistente social que acompanha o caso de Ramon, a força de
vontade que ele se apega para largar as drogas é algo muito importante
para a sua recuperação. Ela conta que no dia que o dependente químico
chegou à instituição para iniciar o tratamento, estava completamente
debilitado e suas condições físicas eram muito preocupantes. "Achei que
ele não conseguiria ficar por muitos dias, no entanto estava errada, a
sua capacidade de superação e a força de vontade de largar a vida imunda
que tinha impressionou a todos nós e graças a Deus tem dado certo. Ele é
um exemplo para outros dependentes seguirem", concluiu.
Incidência de crack na região Oeste preocupa famílias e autoridades
A proliferação do crack nas cidades da região Oeste é algo que vem
tirando o sossego das famílias e autoridades ligadas ao combate das
drogas. O relato da CNM mostra que em especial seis cidades oestanas
apresentam nível alto no consumo de crack.
Tibau, Caraúbas, Triunfo
Potiguar, Martins, Riacho de Santana e Venha Ver superam as demais
cidades, em caráter proporcional, no consumo abusivo do entorpecente. Em
Caraúbas, por exemplo, o tráfico de drogas, segundo dados da Polícia
Militar, é um dos maiores problemas da atualidade, com ocorrências de
crimes e assaltos ligados ao tráfico.
Para o capitão Honorato
Carvalho, comandante da 3ª Companhia da PM caraubense, não basta só o
trabalho repressivo da polícia, é necessário que se realize ações de
combate e educação para que menos gente se envolva com as drogas.
"A
polícia tem feito o que pode para tirar de circulação os traficantes. No
entanto, toda a sociedade tem que fazer sua parte. As igrejas, as
entidades, o governo, devem desenvolver ações educativas e preventivas,
pois só assim é que a médio e longo prazo a droga vai reduzir na
sociedade", concluiu.
Família de Apodi trava luta para livrar jovem do crack
História parecida com a de Ramon é a de Adriano (nome fictício),
morador do bairro Lagoa Seca, em Apodi. De acordo com uma de suas irmãs,
ele hoje tem 20 anos e há cinco se tornou viciado em crack e, desde
então a família não teve mais tranquilidade. "O pior do meu irmão é que
ele não aceita ajuda, apesar de admitir que é viciado. Meu pai foi
embora e nos deixou com a bomba na mão. Meus outros dois irmãos mais
novos moram no sítio com os avós. Só restou eu e minha mãe, que não sei
até quando vamos agüentar", destacou.
A jovem relata que o irmão
passa vários dias fora de casa usando crack e quando volta rouba tudo
que encontra pela frente para trocar por pedras. A família já tentou
interná-lo em uma instituição que cuida de viciados, porém após oito
dias ele fugiu e voltou para casa. "Recentemente ele passou vários dias
preso, depois de ter sido flagrado roubando. 'Qualquer dia recebo a
notícia que ele foi morto em uma dessas atitudes", concluiu a jovem.
De
acordo com a psicóloga Jackeline Nunes, apesar dos riscos bem
conhecidos, as pessoas abusam das drogas e esse abuso continua a
destruir vidas. "A oferta de drogas e a pressão de alguns colegas também
aumentam a possibilidade de o jovem entrar nesse comportamento
autodestrutivo", avalia.
Para ela, mesmo as famílias bem estruturadas
estão sujeitas a existência de um usuário de substância intumescente.
"Isso só nos confirma que a drogadicção deve ser vista de maneira
complexa, biopsicossocial, respeitando-se a subjetividade de cada
situação, de cada indivíduo em particular", disse a psicóloga.
Ela
explica que existe aquele usuário que expressa claramente seu sofrimento
e seu desejo em deixar as drogas, de outro lado aqueles que não
expressam nenhum sofrimento, muito menos o desejo em parar de usar as
droga.
Fonte: O Mossoroense
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