Em um ato de desespero, a atendente de lanchonete Rosilene Medeiros decidiu amarrar, há dois dias, o próprio filho, um adolescente de 15 anos viciado em drogas, em sua casa, após buscar ajuda e não conseguir interná-lo em uma clínica de recuperação.
Segundo Rosilene Medeiros, a atitude extrema foi a única solução encontrada para evitar que o filho continuasse a se drogar. "Descobri que ele usa drogas há dois meses, quando ele chegou em casa contando que estava com uma dívida de R$ 40, e pedindo o dinheiro, ameaçando eu e o meu marido. Nesse momento, meu mundo caiu", destaca.
Após a descoberta, Rosilene viu o problema se acentuar cada vez mais. "Ele começou a chegar em casa drogado, dizendo que ia me matar, e também ao meu marido, que iria quebrar tudo. Então decidi tomar uma atitude. Procurei o Conselho Tutelar e eles disseram que não poderiam fazer nada", afirma.
Segundo a atendente, ela não obteve o resultado esperado ao procurar o Conselho Tutelar, optou então por buscar auxílio junto ao Ministério Público. "Procurei a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude, e lá fui encaminhada ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas no estágio que meu filho está não adianta mais acompanhamento, e sim internação", revela Rosilene.
Vendo-se sem saída, a mãe então amarrou o adolescente, com cordas, em uma das camas da casa. "Amarrei-o e liguei para a polícia, informando o que tinha acontecido. E me disseram que eu poderia deixá-lo amarrado", diz Rosilene, acrescentando que seu objetivo, além de evitar que o filho permaneça usuário de drogas, é chamar a atenção da sociedade para a situação dramática, para que assim consiga o apoio necessário para internar o adolescente.
Na manhã de ontem, 17, após Rosilene Medeiros sair para o trabalho, seu filho conseguiu se livrar das cordas e fugiu de casa. "Estou com medo da reação dele quando voltar, mas pretendo sim amarrá-lo novamente", conclui.
A equipe do jornal O Mossoroense entrou em contato com o Conselho Tutelar da 34ª zona, responsável pelos atendimentos no bairro Alto de São Manoel, para obter um posicionamento a respeito das afirmações da senhora Rosilene Medeiros. Segundo a conselheira Umberiana Maniçoba, não foi registrado nos últimos dias nenhum pedido de auxílio, como disse a atendente de lanchonete.
"Se fôssemos procurados iríamos tentar ajudar de alguma forma. Ninguém se omitiria a prestar algum tipo de orientação. Nós temos que buscar uma solução. Quando somos acionados, encaminhamos uma equipe para a casa do adolescente, com assistente social, psicólogo, e verificamos a real situação do problema", justifica a conselheira.
Mossoró não dispõe de serviço específico para internação de adolescentes usuários de drogas
A situação vivenciada por Rosilene Medeiros poderia ter sido evitada caso a cidade disponibilizasse de um serviço específico, direcionado para adolescentes viciados em drogas que necessitem urgentemente de internamento. Hoje, o município não dispõe desse tipo de assistência.
"Nós tentamos atuar com as ferramentas que temos. Na cidade, já houve até casos parecidos, e a grande dificuldade é justamente a ausência desse serviço específico. O nosso Conselho contribui desenvolvendo pesquisas, oferecendo serviços, programas sociais, orientando as famílias sobre o que fazer nesses casos", opina a presidenta do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), Mirna Aparecida.
Conforme a presidenta, em grande parte dos casos, uma das principais dificuldades é também convencer o próprio usuário de que a internação é o melhor caminho naquele momento. "Não só aqui em Mossoró, mas em todo o Brasil. Nessas situações, a vontade da mãe é colocar o filho em uma clínica de recuperação, mas nem sempre ele aceita essa decisão", finaliza Mirna Aparecida.
Fonte:Omossoroense
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