Estrada da Raiz, predileto da criminalidade onde corpos são desovados. (Marcos Lima) |
Aproximadamente 10 quilômetros de estrada batida, também conhecida como carroçável, a Estrada da Raiz, que liga o bairro Santo Antônio a RN-013, saída para o município de Tibau, tem sido palco de muitos assassinatos e se tornou para a bandidagem rota de fuga, além de local de "desova", onde centenas de corpos já foram deixados após serem executados.
A polícia não sabe exatamente quantos cadáveres já foram encontrados na Estrada da Raiz, no entanto assegura que é muito comum encontrar um "presunto" crivado de balas e já em estado de decomposição.
A via carroçável se tornou a preferida pelos criminosos devido ser um local pouco povoado e sem nenhum tipo de iluminação à noite, tornando-se perigoso para quem trafega.
O aposentado Francisco José da Silva, 67, natural da Paraíba, mas que reside há quase 30 anos nas proximidades da Estrada da Raiz, conta que quando chegou a Mossoró investiu as poucas economias que tinha em um terreno às margens da via carroçável, por acreditar que o local seria um investimento para o futuro.
"Pensei que a cidade iria crescer para essas bandas, com implantação de fábricas, indústrias e habitações. Porém os anos foram se passando e as coisas piorando, com o aumento da criminalidade e a matança de pessoas por aqui", disse o aposentado.
Segundo Francisco José, o perigo aumenta ainda mais quando chega a noite e a movimentação de veículos suspeitos no trecho é bastante intensa. "Hoje está de um jeito que ao entardecer os moradores mais afastados da zona urbana fecham as portas e apagam as luzes para não serem incomodados pelos 'donos' do pedaço", relatou.
O delegado Denys Carvalho da Ponte, que está respondendo interinamente pela Delegacia Regional de Polícia Civil de Mossoró, explica que a procura pela Estrada da Raiz pelos marginais se dá devido a pouca movimentação durante o dia e o deserto no período noturno.
"Só transita por aquela artéria as poucas pessoas que habitam às imediações ou quem está tentando burlar a fiscalização da Polícia Rodoviária Federal".
Além da “desova”, o delegado classifica a Estrada da Raiz como rota de entrada e saída de drogas. Para ele, por dar acesso ao litoral, a via carroçável serve para escoamento de entorpecente, que é levado de Mossoró para as cidades praianas. "Não se sabe ao certo como fazer para impedir a passagem de tanta coisa ilegal ou criminosa por ali, porém uma coisa é certa: redobrar o número de policiais e estreitar a vigilância".
Ainda de acordo com Denys Carvalho, outro fator preocupante com relação aos crimes na Estrada da Raiz é a falta de testemunhas, onde os poucos populares que transitam pelo local não se arriscam a repassar informação, temendo represália.
"O silêncio, a falta de testemunhas e o medo das pessoas faz com que a maioria dos crimes permaneça sem elucidação. É a 'lei do silêncio que permanece, não só naquelas imediações, como em todas as circunstâncias dos bairros e ruas de Mossoró, considerados de alto risco", concluiu.
Crimes emblemáticos da Estrada da Raiz desafiam as investigações policiais
Somente nos últimos três anos, aproximadamente 10 crimes foram registrado na Estrada da Raiz ou em áreas circunvizinhas, de pouca movimentação popular. Entre os ocorridos, nos últimos três meses, dois têm desafiado as investigações policiais: a morte do agente penitenciário federal Lucas Barbosa Costa, encontrado por volta das 9h do dia 18 de dezembro do ano passado, e uma ossada humana, totalmente carbonizada, localizada por populares, na manhã do dia 20 de janeiro deste ano, próximo onde o corpo de Lucas Barbosa foi deixado.
No crime do agente federal, as polícias civil e federal ainda não conseguiram montar o quebra-cabeça do inquérito policial e chegar aos assassinos e aos motivos.
Com relação à ossada humana, a Polícia Civil acredita que a vítima tenha sido assassinada em outro local e desovada naquela artéria carroçável. Entretanto, como só havia apenas ossos, fica mais complicado ainda para reconhecimento, apesar de várias pessoas desaparecidas terem a mesma estatura que o corpo tinha.
Anos 80
Crimes emblemáticos na Estrada da Raiz não são requisitos de agora. Nos anos 80, segundo registros da época, um presidiário foi encontrado morto a tiros em um matagal das proximidades do bairro Santo Antônio, com várias perfurações de bala na cabeça.
O crime não seria chocante se não fosse por um detalhe: a vítima estava algemada com uma algema de titânico, de uso exclusivo da polícia. Apesar das evidências, nunca se soube ao certo o que teria acontecido, nem quais os motivos para a execução do presidiário.
Trabalhadores e populares são constantemente vítimas de assaltos na Estrada da Raiz
Registros da Polícia Militar mostram que nas imediações da Estrada da Raiz, onde diariamente transitam vários funcionários de firmas que prestam serviços nas imediações, assaltos acontecem em plena luz do dia.
Isso porque, segundo a PM, o local é deserto e de difícil acesso, levando a bandidagem a agir sem nenhum temor das forças policiais. O alvo dos criminosos é a população que se arrisca a transitar pelo local e trabalhadores de firmas.
O funcionário de uma firma, que preferiu não ser identificado, contou que conduzia a caminhoneta da empresa quando dois elementos encapuzados saíram de dentro do mato com armas em punho e anunciaram o assalto, levando todos os seus pertences e os malotes da empresa.
Em seguida, os assaltantes foram embora em uma moto que estava escondida dentro do matagal.
omossoroense
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