domingo, 25 de agosto de 2013

Atormentada com a bandidagem, população mossoroense se arma para a "guerra urbana"

omossoroense
A violência urbana que tomou conta das ruas de Mossoró tem feito a população se armar para se defender, mas a bandidagem não se intimida e continua assaltando e matando diariamente.
As pessoas, acuadas, passaram a se armar em busca de maior sensação de segurança. A atitude vai na contramão do Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003, que prevê a regulamentação do registro, porte e comercialização de armas de fogo no país.
Um dos maiores problemas da forças policiais é a facilidade que as pessoas têm de adquirir uma arma de fogo, no mercado clandestino. O cidadão de bem ou o criminoso encontra muita facilidade para conseguir uma arma.
O grande número de apreensões de armas este ano em Mossoró, segundo dados da Polícia Militar, mostra o quanto é fácil adquirir uma arma. Até o momento, somente a PM já conseguiu tirar de circulação mais de 130 armas dos mais variados calibres.
Os dados foram repassados pelo tenente-coronel Alvibá Gomes Ferreira, comandante do 2° BPM. Em entrevista à imprensa, o comandante revelou que em 2011 foram retiradas das ruas 70 armas, em 2012 foram 182 e neste ano, faltando quatro meses para o final, já foram até aqui cerca de 130, totalizando 378 armas apreendidas. 
O delegado Denys Carvalho da Ponte, titular da Delegacia Regional de Polícia Civil, explica que o desfecho de tantas armas nas ruas são as estatísticas dos homicídios. "A polícia está fazendo o seu papel, coibindo a criminalidade e retirando das ruas armas de fogo, no entanto o mercado negro oferece inúmeras vantagens para se adquirir uma arma e isso tem de ser combatido", destacou o delegado.
Ele alerta que mesmo um cidadão de bem que adquire uma arma de forma irregular está cometendo um crime e pode ser punido legalmente conforme estabelece o Artigo 12 da Lei do Código Penal Brasileiro. "Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa, poderá sofrer pena - detenção, de um a três anos de prisão, e multa",explicou o delegado.

"Não vejo vantagens em ter uma arma em casa, pode ser um perigo constante", diz delegado
O delegado José Vieira Castro diz não ver vantagens em um cidadão comum ter arma em casa. É que as pessoas só conseguem uma autorização, o que as obrigam manter o artefato dentro de casa.
Por isso, na opinião do delegado, a arma se transforma em mais uma fonte de risco para as famílias. Uma criança pode ter curiosidade e mexer; se furtada ou roubada vai "abastecer" o mundo do crime; além da falta de preparo em atirar. 
"Os próprios policiais, que são preparados para atirar, muitas vezes não se dão bem ao combater o crime. Imagine um cidadão comum. Além disso, reagir a um assalto é sempre perigoso. A arma dá apenas uma falsa impressão de proteção. É por isso que não vejo vantagem alguma", afirma.
José Vieira explica ainda que no caso de uma pessoa portar uma arma sem autorização poderá ser presa por porte ilegal de arma. No caso de falta de registro, a pena é ainda maior, respondendo por posse ilegal.

Populares se armam para proteger família ou negócios
A reportagem do O Mossoroense teve acesso ao dia-a-dia de alguns homens que mantêm armas em casa ou no comércio para proteger a família ou os negócios. A reportagem destacou alguns casos e depoimentos dessa prática irregular e perigosa.
Com a intenção de proteger a si e a sua família, um trabalhador, de 56 anos, mantém uma espingarda calibre 36, em sua casa, no bairro Santo Antônio. Ele afirma que precisa da arma, já que vive distante do policiamento.
"Não sei se teria coragem de atirar em alguém, mas assustaria atirando para o alto. Eu preciso garantir a segurança minha e da minha família. Até a polícia chegar aqui, pode ser tarde demais", disse.
Outro comerciante, de 42 anos, disse que a posse de um revólver calibre 38 e escopeta 12 são lembranças de seu pai, que mantinha as armas no estabelecimento comercial para garantir a segurança.
"Meu pai era dono de um comércio e mantinha sempre as armas limpinhas e guardadas na loja. Quando ele morreu, elas ficaram para mim, que até hoje as conservo do mesmo jeito que ele deixou e as mantenho guardadas aqui no meu comércio."
Para o psicólogo João Valério Alves Neto, a busca por armas está intimamente ligada à sensação de insegurança da população. "As pessoas assistem a matérias sobre roubos e outros crimes todos os dias, escutam vizinhos falando da violência, então buscam uma maneira de se prevenir. Maneira essa ilegal e que pode causar traumas para o resto da vida na família", destacou.

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