Mesmo sendo um lugar que habita apenas mulheres, a cor cinza das paredes sujas e cheias de anotações, que predomina no Presídio Feminino de Mossoró, no Complexo Penal Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN), difere pouca coisa da ala masculina na mesma unidade, onde aproximadamente 400 homens dividem espaço.
Somente num espaço pequeno, com pouco mais de 50 detentas, as presas convivem e dividem os dramas. Atrás de cada grade da prisão há histórias marcadas pela luta da sobrevivência. São pessoas casadas com traficantes, usuárias de drogas, abandonadas, mães com filhos para criar que moram em outros municípios, outros estados.
A faixa etária surpreende, pois é grande o número de jovens entre 19 e 25 anos, passando também por senhoras acima de 40 anos. Quase todas têm filhos e é o destino deles que mais as preocupa: a ausência deles no dia a dia.
“A saudade de casa e a ausência dos meus filhos são o que mais me dói nestes quase dois anos de cadeia em regime fechado”, explicou a dona de casa Andreária Moura da Silva, 29 anos, condenada a sete anos e 10 meses de reclusão por tráfico de drogas.
Mãe de dois filhos pequenos, a mulher encara mais uma vez a distância da família nas festividades de final de ano. Ela se emociona quando lembra das crianças, que estão sendo criadas pela avó e esporadicamente são levadas para visitá-la na prisão.
“Eles (os filhos) demoram a vir me visitar, devido este lugar não ser apropriado para crianças e não quero que venham muito neste lugar. É muito humilhante para eles”, destacou a mulher, com lágrimas nos olhos.
Já a presa Izabele Vieira Lima, 23 anos, condenada a mais de 10 anos por tráfico de drogas e associação para o tráfico, não tem filhos, mas nesse período do ano, de festividade e confraternizações, chora copiosamente ao lembrar de sua mãe, que reside no bairro Bom Jardim.
“Arrependo-me muito das coisas erradas que fiz, porém não posso voltar no tempo e o que está feito não se pode mudar. No entanto quando chega este período do ano fica difícil de segurar a barra neste lugar sombrio”, desabafa.
ALA MASCULINA
Assim como as paredes sujas e ambiente com poucas condições dignas de sobrevivência, a ala do regime fechado, do lado masculino, da unidade prisional, se assemelha ao das mulheres.
A saudade de casa e o aconchego dos filhos, principalmente neste período do ano, onde as famílias costumam se reunirem para confraternização, também mexe com o sentimento dos homens.
Alex Maia de Oliveira, 28 anos, é de Fortaleza-CE, condenado a 10 anos e quatro meses de prisão por assalto, e já cumpriu mais de três anos, vai passar a virada do ano distante de suas duas filhas, de 6 e 10 anos.
“Só Deus me dar forças para nesse período ficar longe de minhas filhas. Espero cumprir minha pena e quando sair daqui recomeçar a vida de forma honesta e digna”, destacou o assaltante.
Para Alex Maia, os anos de cadeia no regime fechado não permitiram que ele acompanhasse a doença dos pais, que somente em um momento curto acompanhou o sepultamento da mãe e dias depois compareceu rapidamente ao velório do pai. “Aqui é um lugar onde os nossos limites são testados a todo instante. Perdi meu pai e minha mãe e não pude nem chorar direito as suas mortes”, disse.
O diretor do CPEAMN, major Humberto Pimenta, destaca que o fator psicológico dos presos é muito aguçado e apesar de serem homens e mulheres infratores, sofrem e choram com a falta da família.
“Depois que estou presa perdi minha mãe e espero ansiosa a oportunidade de conhecer meu neto”, diz detenta
A situação da detenta Maria dos Navegantes, 39 anos, natural de Macau, não é das mais confortáveis, presa há pouco menos de três anos, depois de ter sido sentenciada a oito anos de prisão, por tráfico de drogas, ela amarga a separação das duas filhas que, por morarem em municípios diferentes, demoram a visitá-la na prisão.
Para piorar a situação, durante o tempo em que está presa, sua mãe faleceu e ela não teve como acompanhar o velório e o sepultamento. “Muito triste não ter acompanhado de perto a minha mãe nos seus últimos dias de vida. Só Deus para me dar força e conforto nessa hora tão angustiante”, explicou.
As lágrimas de tristeza que rolam no rosto da presa, pela perda da mãe, se misturam com as de alegria quando ela fala no neto que está para nascer. “Depois que estou presa perdi minha mãe, porém agora espero ansiosa o momento de ganhar minha liberdade condicional, para conhecer meu neto que vai chegar”, destacou.
A companheira de cela Andréia Filgueira, 32 anos, que já cumpriu quase um ano e meio dos sete que foi condenada por tráfico, se emociona ao lembrar-se dos três filhos menores que estão sendo criados separados depois de sua prisão.
“Meus dois filhos mais velhos estão morando com minha mãe, e minha filha mais nova com o pai e minha sogra”, disse.
A agente penitenciária chefe da segurança e disciplina do Presídio Feminino conta que apesar de presas as mulheres são muito sensíveis e sofrem distantes dos familiares. “Vejo aqui o sofrimento delas e quando chega esse período do ano os sentimentos afloram ainda mais e muitas dessas presas sofrem demasiadamente. Eu na qualidade de agente e mulher, procuro ajudar como posso. Simplesmente não posso chegar e virar as costas para quem precisa de ajuda e quando Deus coloca a gente em um determinado lugar, com condições de ajudar as pessoas, temos que cumprir o nosso dever”, concluiu.
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