domingo, 23 de fevereiro de 2014

Quatro praias destroçadas em Icapuí CE


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Apesar de muitos moradores terem soerguido suas moradias com o auxílio de troncos de carnaúba, ainda assim a maré continua a atormentá-los. Nesse trecho, no espaço que existia antes das casas, havia uma calçada e uma estrada que contornava toda a orla da praia
FOTOS: KID JÚNIOR
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Uma cena insólita na Praia de Redonda, em Icapui: os pescadores tiveram que colocar suas jangadas na pista temendo que o equipamento fosse arrastado
Durante as madrugadas, os pescadores da Praia de Redonda têm que ficarem alerta, pois a maré pode levar suas jangadas
Icapuí O mais castigado município litorâneo do Litoral Leste sem dúvida alguma é Icapuí. Em dezembro último, a Prefeitura decretou calamidade pública em quatro praias: Barrinhas, Barreiras da Sereia, Peroba e Redonda. Só com obras para defender o continente do avanço do mar, serão utilizados recursos do Ministério da Integração Regional da ordem de R$ 20 milhões, sem se falar o que já foi gasto para remoção de famílias no programa Minha Casa, Minha Vida.
O visitante que chega até a Praia de Barreiras da Sereia não deixa de se impressionar com o impacto causado pelas cenas de destruição. A maré arrastou coqueiros, barracos, casas, posto de saúde, escola, estrada e até algumas barragens colocadas pela comunidade na tentativa de impedir o avanço do mar. O trecho da praia mais se assemelha a uma cidade fantasma.
O pedreiro Jorge Henrique Santos da Cruz, 25 anos, é um dos milhares de jovens que passaram pela escolinha municipal da localidade. Ele lembra com saudade o tempo de estudante. "Durante quatro anos, aprendi muita coisa do que sei hoje nesse espaço", diz, apontando para os escombros da escolinha. "Aqui existiam três salas de aula, dois banheiros e um pequeno refeitório. O mar levou tudo".
O que ocorreu não foi surpresa para os avós de Henrique. "Eles sempre insistiam nessa história de que um dia a maré chegaria até o continente. Quando o mar vinha se aproximando, a comunidade tentou por conta própria adotar algumas medidas para tentar barrá-lo, como a construção de barreiras de pedras. Foi tudo em vão. Aqui mesmo próximo à escola tinha um estacionamento para 15 carros e um campinho de futebol, além da estrada. Tudo foi embora".
Em Redonda, uma cena no mínimo curiosa: jangadas e veículos disputam o mesmo espaço na pista. Isso ocorre pelo fato de metade da via ter sido engolida. O pescador Carlos Antônio da Silva, 58 anos, revela que a preocupação de todos hoje em dia é de que o posto de saúde localizado na rua que teve uma parte destruída possa ter o mesmo fim. "Será mais um prejuízo enorme para a comunidade. Somos pobres e não temos condições de pagar uma consulta particular. Pior ainda é se o avanço derrubar os postes de iluminação, o que não está longe de acontecer", frisa Carlos Antônio.
Jangada
O irmão do pescador, o aposentado João Evaristo da Silva, 65, alerta para uma outra preocupação. "Os pescadores correm o risco de perderem o seu bem mais importante, que é a jangada. O mar vem avançando e a gente guardando a jangada mais perto da pista. Chegou ao ponto que tivemos que colocá-las em cima do que restou do asfalto. Ainda assim, é preciso ficar vigilante à noite, pois uma maré forte pode carregar a embarcação como já aconteceu várias vezes por aqui".
João Evaristo recorda que, "há 40 anos, a cheia do Rio Jaguaribe trouxe uma maré gigantesca que invadiu mais de 20 metros rumo à rua. Foi algo incrível. Levou as embarcações com âncora, ferro e tudo mais. Espero que não aconteça algo parecido. Hoje, ela vem chegando aos poucos". Na Praia de Barrinha, o pescador Antônio José da Costa assegura que "antigamente, existia tantos morros e areia por aqui que era impossível a gente ver a Praia de Barreiras da Sereia. Com o tempo, eles foram indo embora e hoje a gente vê perfeitamente quase todo o litoral de Icapuí".
Segundo seu Antônio, "foi mais ou menos a partir de 2000 que o mar começou a vir com mais violência. Uma contenção de pedras que havia aqui foi levada. Em 2011, uma outra foi feita e tem conseguido segurar a pressão. Só não sei até onde pois, quando a maré bate nas pedras, respinga água para dentro das nossas casas".
A dona de casa Marineide Ferreira, que mora na Vila Renata, na Praia de Barrinha, lamenta a destruição da escolinha da comunidade. "Há seis anos, a maré levou nossa escolinha que, infelizmente, nunca mais pôde ser reconstruída. Com isso, as crianças têm que se deslocar dois quilômetros para estudar". (FM)
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Fonte: Diário do Nordeste

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