Restringir o acesso legal a armas de fogo não é o melhor caminho para reduzir a violência no país, na avaliação de uma pesquisa elaborada recentemente pelo Ministério da Justiça, através do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O estudo revela que as vendas clandestinas no mercado ilegal, somadas à impunidade, representam o maior problema nessa área da segurança pública, já que fazem chegar, com certa facilidade, às mãos de criminosos ou de pessoas com distúrbios psicológicos as armas de fogo.
"O problema não é a arma ou o acesso legal a ela, o que no Brasil já é extremamente restrito. O grande problema é o mercado ilegal, porque quem quer praticar um crime desses chamados 'midiáticos', como ocorre com maior frequência nos estados brasileiros, compra um fuzil, um AR-15, uma pistola, um revólver, de forma clandestina, para cometer qualquer tipo de atrocidade", destacou o professor Denis Rosenfield, responsável pelo estudo. Para o professor, "quem tenta comprar legalmente é o cidadão comum, que pensa na autodefesa e na proteção à família".
Em Mossoró, assim como na maioria das cidades brasileiras, comprar uma arma de fogo não é tarefa difícil no mercado clandestino. A facilidade de adquirir uma arma tem aumentado assustadoramente à violência nos bairros e ruas da cidade, onde a bandidagem tem agido, seja com assaltos ou práticas de homicídios.
Dados da Polícia Militar local apontam que somente este ano aproximadamente 90 armas de fogo já foram tiradas de circulação.
Segundo informações repassadas pelo tenente-coronel Francisco Alvibá Gomes Ferreira, comandante do 2° Batalhão da PM, no ao passado foram tiradas das ruas, pela corporação, 184 armas de fogo e este ano já são, até a última sexta-feira, 87 armas de todos os calibres.
"O mercado negro de venda de arma de fogo tem aumentado muito em Mossoró, a facilidade como a bandidagem tem acesso à compra de armamento tem crescido bastante, mesmo com toda a intensificação à criminalidade e isso tem preocupado. Mas vamos continuar combatendo e tirando das ruas elementos que causam asco à sociedade", destacou.
Para o comandante da PM, além da facilidade de obter o armamento, muitas delas estão sendo fabricadas artesanalmente e têm o mesmo ou maior poder destrutivo quando utilizadas em ações criminais. "Temos observado uma coisa durante as nossas apreensões, a grande quantidade de armas artesanais produzidas em fundo de quintal, porém tão ou mais letais do que as industrializadas".
Os números da PM são assustadores ainda mais somados ao da Polícia Civil, que também somente este ano já tirou das ruas quase 100 armas. "São armas apreendidas em operações, em bocas de fumo, com menores, em investigações. Seja como for, a forma como essas armas chegam às ruas preocupa bastante", disse o delegado Denys Carvalho da Ponte, titular da Delegacia Regional de Polícia Civil de Mossoró.
O delegado destacou ainda que a fiscalização deve ser redobrada no tocante ao combate ao uso de armas de fogo nas ruas da cidade. Para isso, a Polícia Civil e a Militar têm que intensificar ainda mais a fiscalização em especial nos bairros considerados de maior risco.
"Somente fiscalizando é que vamos reduzir o número de armas nas ruas e bairros", concluiu.
"Alugar armas para cometer delitos tem se tornado uma prática comum entre a bandidagem mossoroense", diz comandante da PM
Entre as inovações protagonizadas pelos criminosos para cometerem delitos nos bairros e ruas de Mossoró, está a nova prática de alugar armamentos para assaltos ou homicídios.
De acordo com o tenente-coronel Francisco Alvibá, comandante do 2º BPM, esta modalidade já faz algum tempo que acontece em Mossoró. "Temos conhecimento que os criminosos que não podem comprar uma arma potente, mesmo no mercado negro, alugam para cometer crimes e após a prática do delito devolve ao proprietário mediante o pagamento de uma porcentagem", explicou o comandante.
Para Alvibá Gomes, atualmente existem bandidos que ganham dinheiro somente alugando armas de fogo a bandidos menos favorecidos. "Não só armas são alugadas, como também veículos (carros e motos) para prática de crimes", destacou.
Um adolescente de 16 anos, apreendido na semana passada pela PM, portando uma arma de fogo, disse que é comum alugar armas e transporte para assaltos e homicídios, no entanto ele lembra que a responsabilidade pelo material é de quem aluga e em hipótese nenhuma, em caso de ser flagrado, pode entregar o verdadeiro proprietário, sob pena de morrer.
"Quando alguém 'cai' com uma arma locada não pode abrir o 'bico' de quem o material pertence. Meu irmão, se fizer isso vai acabar com a 'boca cheia de formiga' (morrer), em uma estrada deserta. Tem mais outra coisa, se o sujeito for preso, quando sair da cadeia ele tem de pagar pelo prejuízo da arma. A boca é quente", destacou o adolescente.