domingo, 12 de janeiro de 2014

Tradicionais garrafinhas de areia colorida são cada vez menos encontradas em Tibau

Amarelo, marrom, preto, prateado, cinza-claro, cinza-escuro, encarnado, encarnado-escuro, encarnadão. Estas são apenas algumas das cores que podiam ser retiradas das ricas camadas de solo da cidade de Tibau. Porém, hoje os morros e barreiras, repletos da chamada areia colorida estão sumindo e decretando o fim de uma das mais importantes e emblemáticas práticas culturais do interior do Rio Grande Norte.
De acordo com o livro "Tibau em Dois Tempos", de autoria do atual secretário de Turismo de Tibau, Milton Guedes, as famosas garrafinhas de areia colorida, souvenires típicos das regiões costeiras do Nordeste brasileiro, surgiram na cidade de Tibau em 1921, idealizadas pelas irmãs Belisa e Joana de Jesus, moradoras do município à época.
Após a descoberta, o artesanato não atraiu muito a atenção da população, mas décadas depois, em 1955, algumas artesãs começaram a se destacar através da produção de garrafas com areias coloridas, em função de suas habilidades e a qualidade do trabalho.
De acordo com o pesquisador Ormuz Barbalho Simonetti, que é presidente do Instituto Norte-Rio-grandense de Genealogia (INRG), a produção de enfeites, com uso da areia, teve início com material genuíno, o que não mais é possível hoje, pois grande parte do sedimento utilizado vem acompanhada de pigmentação.
Ele explica que no início, as garrafinhas eram apenas preenchidas com areia de várias cores, criando uma apresentação panorâmica da diversidade de colorações, porém, com o tempo isso foi se potencializando e os artistas propuseram uma ampliação da arte, desenhando paisagens e outras figuras mais complexas.
A artesã Maria José, que faz garrafinhas há 20 anos, comenta que a tradição é sua grande paixão, e que ela não deixa, apesar das dificuldades, de realizar seu trabalho artístico. Ela diz que hoje não é possível se sustentar da produção de garrafinhas, mas que nos meses de veraneio, onde o movimento nas praias é muito maior, já chegou a faturar mais de mil reais.
"O trabalho com garrafinhas requer muito interesse, muita dedicação e afinco. Por isso muitas pessoas se afastam desta tradicional arte. Hoje eu sou a única artesã que produz e vende garrafinhas, residindo em Tibau", afirma Maria José, que completa lembrando que nunca recebeu nenhum apoio nem incentivo do poder público para expandir seu trabalho e oferecer oficinas capacitando pessoas a realizar a arte com areia colorida. 
Ormuz Barbalho comenta que a cultura da produção de souvenires que se utilizam de areia colorida tem sofrido uma grande baixa nos dias atuais devido à falta de familiarização dos mais jovens com a arte. Ele explica que esta prática tem forte apego às raízes culturais, o que vem sendo perdido, em detrimento a outras atividades que permitem maior lucro.
O secretário de Turismo, Milton Guedes, corrobora deste pensamento, colocando a falta de intimidade da juventude com a produção das garrafinhas como uma das principais causas de seu rápido desaparecimento em Tibau. Ele ainda enumera outros possíveis e históricos motivos, que pouco a pouco vem deteriorando a cultura das garrafinhas na cidade.
Para o secretário, que já publicou dois livros sobre a história da cidade, o desmantelamento da cultura começou com a especulação imobiliária, que se utilizou de grande parte dos sedimentos para a construção de casas. Ele relembra que ao ser descoberta, Tibau recebeu o nome de Morros Vermelhos, em alusão às cores atípicas da areia e dos barrancos. 
"Tínhamos 27 cores de areia aqui em Tibau, com colorações genuínas e extraordinárias. Porém, os moradores foram se utilizando disso para a construção de casas, e posteriormente as grandes construtoras potencializaram essa situação. Hoje, os poucos artesão que temos são obrigados a tingir essa areia por falta do material original”, explica o secretário. 
Milton Guedes ainda comenta que a falta de iniciativa da própria Prefeitura e do município tem agravado a situação. Ele lembra que na cidade de Grossos, uma cooperativa produz e vende a nível nacional as garrafinhas, que outrora já foram símbolo da cidade de Tibau
Além disso, o secretário relembra um fato importante ocorrido, quando em janeiro de 2013 a comitiva do município participou da Feira Internacional de Artesanato - Natal (Fiart), e levou amostras da arte feita em garrafinhas para apresentar e comercializar com turistas e visitantes. 
"Levamos estas garrafinhas, mas sem nenhum grande apoio ou projeto bem delimitado, ao chegarmos lá o estande de Mossoró não só vendia as garrafinhas pela metade do preço, como levou um artesão especializado para fazer os desenhos ao vivo, atraindo dezenas de turistas interessados por uma arte que é nossa, por natureza, e não de Mossoró" conclui o secretário.

Cláudio Palheta
claudiopalhetajornal@hotmail.com/omossoroense

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